terça-feira, 21 de julho de 2009

Gomuck, a nascente do Ganges

Na primeira vez, fui sozinha e fiquei três meses, foi ótimo. Na segunda a viagem foi em grupo. A princípio estranhei, achei que seria complicado muita gente junta na Índia, mas iria de qualquer maneira porque uma das pessoas do grupo era Gloria, a minha mestra. A viagem foi pensada como uma grande peregrinação, com dois pontos principais: a nascente do rio Ganges no norte e o templo de Balaji em Tirupathi, no sul.

Fomos primeiro para o sul, que vale um post a parte. Depois para o norte. Parada estratégica no ashram do Swami Dayananda em Rishikesh e em um micromicrominionibus começamos a subir os Himalayas! O onibus tinha que ser o menor possível por causa do tamanho das estradas. É preciso um veículo pequeno, uma ótima buzina e motorista e fé, muita fé. A pirambeira é tão pirambeira que da janela não dá para ver nem um dedo de terra, só vemos o pneu e o precipício. Em toda curva está escrito "buzine por favor". Para ter uma idéia, um trecho de 300km mais ou menos leva umas 12 horas de viagem.

Depois de um dia inteiro chacoalhando (eu e minhas companheiras de viagem mais chegadas ficavamos lá atrás porque algumas pessoas enjoavam muito e tinham que ir na frente onde o impacto é menor), enfim, chegamos a uma cidadezinha chamada Harsil. O lugar é lindo, ficamos em um acampamento muito confortável, os quartos eram tendas, mas fixas, com banheiros e tal. Tinha macieiras pelos caminhos até o refeitório e uma comida maravilhosa (OK, nessa parte eu sou suspeita porque adoro todas as comidas, até a do ashram que muitos detestam). Chegamos, banho, janta e dia seguinte caminhada!!! Fomos de onibus até Gangotri, a última cidade antes de Gomuck. Uns burricos levaram nossa bagagem (só o necessário para duas noites de muito frio) e nós começamos.

Lá a altitude beira os 4 mil metros. É dar dez passos numa subidinha e parece que foi um tiro de 2km. Um sol de rachar o coco, um friozinho da sombra. Devagar e sempre, fazendo paradinhas estratégicas, uma delas para almoçar um miojo sabor curry - o melhor miojo da minha vida! Durante o caminho fui filmando um pouco e cantando mentalmente para Ganga. Era o que me dava forças para caminhar, refletir, continuar em meu caminho.
Ao cair a tarde começou a ficar bem frio. Perguntávamos para o guia se faltava muito e ele sempre respondia que era duas curvas depois - que nunca chegavam..rsrs
Chegamos já a noitinha, depois de 9 horas eu acho de caminhada. Bhoojbasa era a base, um acampamento com barraquinhas mais modestas, um banheiro que era uma casinha com um buraco no chão e um refeitório que era uma tenda maior. Cheguei com uma enxaqueca horrível e me joguei dentro da barraca, rindo, não acreditava que tinha chegado!!! Logo fomos jantar, vou parar de comentar a comida se não vão achar que eu vou para a Índia só para comer!

Na manhã seguinte seria a caminhada final até a nascente, mais uns 4km para ir e 4km para voltar. O céu era o mais estrelado que eu já vi em toda a minha vida!!! Bhoojbasa é lindo!!!
De manhã, uma bacia pequena de agua morna/fria (a do rio era gelo puro) para higiene básica. Posso dizer que agradeço por quem inventou os lenços umidecidos, rs.
E vamo que vamo. Algumas pessoas passaram mal durante a noite, altitude, esforço e principalmente nervosismo por saber que se tivesse um piripaque ali ia ter que descer no lombo do burro até Gangotri, que também não devia ter muita assistência. No começo foi um pouco tenso, mas todos foram devagar, cada um no seu ritmo. O sol parecia pior, ou o caminho que não tinha quase sombra nenhuma. Mantra para Ganga mais forte do que nunca!
Enfim, chego a nascente! Que força, que som! No buraco mesmo é perigoso ir, muitas pedras rolam, tivemos que ficar um pouco a frente, só admirando o paredão de gelo. A água mais gelada que eu já senti. Só o João Mazza e a Lucia Paiva conseguiram entrar na água, meus heróis!!! Talvez agora com cabelo curtinho eu consiga também...


Voltamos, dormimos mais uma noite em Bhoojbasa e no dia seguinte, caminhada de volta a Gangotri. Algumas pessoas voltaram no burrico. Eu, João e Lucia viemos num pique só para pegar o templo de Ganga aberto. Para descer é outra história...o que levamos 9h na ida fizemos em 4 na volta. Conseguimos pegar o templo aberto, aguenta coração!!! Sensação de missão cumprida. Mas a viagem ainda não acabava ali...

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