sexta-feira, 8 de maio de 2009

O velhinho do ônibus para Bangalore

Resolvi sair de Puttaparty poucos dias depois de ter chegado, em mais uma madrugada insone por causa do jet leg. Por volta das 3 da manhã me enfiei em um ônibus catacorno onde ninguém falava inglês. Eu sentei na janela, com meus mochilões no colo (não havia espaço para bagagem, como disse, era um catacorno). 

Nos primeiros dias na Índia, sozinha, ponderando tudo que tinham me falado sobre viajar por aquelas bandas, mal tirava fotografias, sei lá, receio de ser agressivo demais. Enfim, estou eu no ônibus, sentada perto da janela, uma senhora sentou ao meu lado. Eram pessoas bem pobres, a maioria com cestos vazios, provavelmente estavam voltando para seus vilarejos para abastecerem e voltarem para vender em Puttaparty. De repente ouço uma voz cantando uma melodia linda ao som de um chacoalhar de moedas ao fundo. Me viro para ver de onde vinha aquela música, aquela voz tão intensa e vejo um senhor, bem velhinho, cego, sacudindo um pote com umas moedas, pedindo dinheiro. 

Aquela cena toda, miséria pedindo esmola para pobreza, aquele senhor, aquela voz, a madrugada. Veio um choro imediato, como ainda viria muitas vezes pela viagem, ainda contido (mais para o final da viagem, já em Rishkesh, chorei várias vezes feito criança, sem vergonha, sem pudor - para estranhamento geral dos indianos). Ainda tímida tirei a câmera fotográfica da mochila para tentar gravar aquele som. Peguei muito pouco, mas esse momento não sai mais do meu coração. O velhinho cego do ônibus para Bangalore. 

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