quinta-feira, 2 de abril de 2009

Chegando, pela primeira vez


Fui a primeira vez em 2005. A mulher da agência de viagens disse que eu não aguentaria nem um mês sozinha, ainda mais indo pela primeira vez. Conversei com muitas pessoas que estiveram por lá, morando, estudando e muitas também me disseram que não iriam sozinhas. Mas eu fui. E adiei por duas vezes a volta para o Rio.

A única coisa que pedi para a agência foi um carro me esperando em Bangalore para me levar para Puttaparty, no ashram do Sai Baba. Eu chegaria de madrugada em Mumbai e faria uma conexão para Bangalore, chegando umas 3 da manhã. Só queria ler uma plaquinha com meu nome na chegada, o resto dos 3 meses eu me viraria. Mas ao sair no corredor polonês que se forma na saída do aeroporto (só quem viaja tem o direito de entrar), procurei no meio da multidão o meu nome, eu e meus mochilões, olhei de um lado, de outro, e nada. Isso tudo com a gritaria de gente oferencendo serviço, transporte.

Ainda tonta e um pouco assustada me enfiei numa cabine telefonica e liguei para o Brasil, para a tal da agência e falei: "e aí, tô aqui e não tem ninguém me esperando! Pô, foi a única coisa que eu te pedi!". Foi mais um desabafo, porque sabia que ela pouco podia fazer do outro lado do mundo. Saí da cabine, olhei para dentro do aeroporto pensando em talvez entrar e ficar até o dia amanhecer.

Nisso voltam a me abordar dois homens que já haviam me oferecido um taxi. Eles falam rápido e eu entendo pouco (leva um tempo para se acostumar com sotaque indiano). Até que um deles começou a falar que era profissional, que tinha cadastro e me mostrou sua carteira de taxista. Eu peguei, olhei e a única coisa que me lembro era de uma data de expedição: a do meu aniversário. Decidi ir com ele. Parece loucura, mas na hora foi isso que me convenceu: o dia e mês em que eu nasci na carteira dele.

Com toda a paranóia de quem mora no Rio de Janeiro, entrei com muito medo no carro. Tudo escuro em volta. O motorista era gentil, me ofereceu um travesseiro para se eu quisesse dormir, porque a viagem era de aproximadamente 3 horas. Eu estava um caco, mas nunca arregalei tanto os olhos e disse que não precisava. Por algumas vezes ele também parou na estrada e me ofereceu tchai (chá preto com leite), eu também não quis. Fiquei rezando, pensando que ele poderia sumir comigo e talvez ninguém nunca mais me visse. Já eram por volta das quatro e meia da manhã e essa agonia foi até umas seis horas, quando começou a clarear e eu consegui ver uma placa escrito puttaparty. Ele estava me levando para o ashram. Acho que nunca uma hora e meia demorou tanto para passar.

Cheguei lá, me hospedei no ashram. Não era devota e mal sabia a respeito do Sai Baba, mas quis ver de perto quem era essa pessoa que tinha tantos poderes e mobilizava tanta gente na Índia e no mundo. Fiquei num quarto com mais umas oito mulheres, a maioria russas que mal falavam inglês e uma do Canadá. Os primeiros dias são estranhos, com tal do jet leg. Não tinha sono nem fome, o que me fazia acordar de madrugada e ir para a fila ver o Sai Baba. Depois do darshan (visão), eu ia para uma clínica ayurvédica fazer massagem e andava pela cidade.

Nem precisava saber língua nenhuma lá, porque tudo é "Sai Ram". Não é exagero! Tudo!!! "Dá lincença, me desculpa, tire os sapatos, não pode, sim, não, talvez, comida, bom dia, boa noite..." O que quer que você queira, todos lá só falam "Sai Ram". Chega a ser engraçado. Tudo é uma questão de contexto...rsrsrs

Bom, já no segundo dia eu começei a desmontar o mito que faziam da Índia. A própria agenciadora me alertou bastante contra "os perigos" da Índia. Quase me ameaçou para que eu não comesse em nenhum lugar fora do ashram, só no restaurante para estrageiros. O que eu fiz? Segui pela rua fora do ashram e entrei no primeiro restaurante que achei simpático. A comida era ótima!!! E muito barata também. Já estava me sentindo em casa...

No terceiro dia eu já estava legal de Sai Baba e queria continuar viajando. Falei com algumas pessoas, queria ir para Tiruvanamalai antes de Mysore. Sondei os meios de transporte, pensei, pensei...e de repente no meio da noite eu acordo (ainda no jet leg) e resolvo ir embora. As duas e meia da manhã, saio eu com um mochilão nas costas e outro na frente, andando pelo ashram deserto. Vou até a mini rodoviária e entro no primeiro ônibus que vejo para Bangalore.

O ônibus não era de viagem, tive que sentar com uma mochila nos pés e outra no colo. Só tinha indiano e nenhum falava nada de inglês. O ônibus foi parando de vila em vila, até chegar a Bangalore, por volta de 1o da manhã (demorou mais do que o dobro do tempo de um carro normal). Desci perto da estação de trem, comprei minha passagem e fui para Mysore finalmente. Tiruvanamalai teve que ficar para outra.

Pronto. Já tinha comido na rua, pechinchado, pegado carro, ônibus comum e estava no trem. Estava completamente em casa. Vou terminar por aqui. Cada post uma história se não ninguém aguenta.

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